15 de março. Entrevista coletiva: Não às Soluções Baseadas na Natureza!

Nota à imprensa

Alianza Biodiversidad - Alliance for Food Sovereignty in Africa (AFSA) - Asian Peoples Movement on Debt and Development - ETC group - Focus on the Global South - Global Grassroots Justice Alliance (GGJ) - GRAIN - Friends of the Earth International (FoEI) - Indigenous Climate Action (ICA) - Indigenous Environmental Network (IEN) Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)

 

Entrevista coletiva em 15 de março: Não às Soluções Baseadas na Natureza!


Às vésperas do momento fundamental da ONU para a biodiversidade, as “soluções baseadas na natureza” são anunciadas mais uma vez, erroneamente, como sendo a solução

À medida que grandes empresas e governos impulsionam as “soluções baseadas na natureza” para combater as crises climáticas e de biodiversidade, mais de 360 ​​organizações lançam uma declaração denunciando-as como sendo “espoliações baseadas na natureza”, que causarão mais concentração de terras e promoverão práticas prejudiciais, como plantações de monoculturas de árvores e agricultura.

Na entrevista coletiva de 15 de março, representantes de Gabão, Brasil, Índia e Estados Unidos destacarão experiências de comunidades com o REDD, precursor das “soluções baseadas na natureza”, no laboratório brasileiro da Economia Verde, o estado do Acre, explicarão por que comunidades do Gabão estão dizendo não à gigantesca apropriação de terras do projeto Grande Mayumba, uma “solução baseada na natureza”, e como o esquema de carbono no solo Boomitra está sendo impulsionado na Índia.

Entrevista coletiva Ásia/Europa: 15 de março (terça-feira).16:00 Jacarta/Bangkok / 14:30 Delhi / 10:00 Barcelona/Berlim / 9:00 Reino Unido. Entrevista coletiva Américas: 15 de março (terça-feira) 13:00 noon EST / 11:00 Cidade do México / 10:00 Pacífico / 14:00 Montevidéu.

 

Montevidéu, 11 de março de 2022

De 14 a 29 de março, a Convenção sobre Biodiversidade (CBD) da ONU retomará as negociações, em Genebra, sobre uma Estrutura Global de Biodiversidade, para conter as perdas. O conceito de “soluções baseadas na natureza” deve gerar uma discussão polêmica nas negociações, com alguns governos pressionando por elas, enquanto muitos países do Sul global estão preocupados com a abertura de mais brechas para compensações de carbono. Um relatório do IPCC que deve ser divulgado no final deste mês provavelmente dará mais credibilidade injustificada ao conceito de “soluções baseadas na natureza”, como fizeram as negociações climáticas da COP26, da ONU, em Glasgow.

Em um comunicado divulgado hoje, 364 organizações, redes e movimentos, além de 128 indivíduos de 69 países, denunciam essas “expropriações baseadas na natureza”, alertando para práticas nocivas, como a expansão das plantações de monoculturas de árvores e a agricultura industrial, que estão por trás da jogada de marketing/lavagem verde das “soluções baseadas na natureza”. Eles pedem a rejeição das “soluções baseadas na natureza”, porque esses esquemas de compensação de carbono disfarçados não são pensados para retardar o colapso climático. Em vez disso, as “soluções baseadas na natureza” são uma forma de as grandes empresas continuarem e até aumentarem suas emissões de gases de efeito estufa.

Representantes de Gabão, Brasil, Índia e Estados Unidos destacarão experiências de comunidades com o REDD, precursor das “soluções baseadas na natureza”, no laboratório brasileiro da Economia Verde, o estado do Acre, explicarão por que comunidades do Gabão estão dizendo não à gigantesca apropriação de terras do projeto Grande Mayumba, uma “solução baseada na natureza”, e como o esquema de carbono no solo Boomitra está sendo impulsionado na Índia.

As “soluções baseadas na natureza” promovem a ilusão de que plantas e solos podem desfazer os danos climáticos causados ​​pelas emissões de carbono resultantes da queima de combustíveis fósseis. Esse é um engano perigoso e proporciona uma fachada para promessas de “emissão líquida zero” por parte de governos e grandes empresas. Em vez de concordar com as drásticas reduções de emissões necessárias para evitar o caos climático, eles fazem afirmações falsas e imprecisas de que a “natureza” removerá o excesso de carbono da atmosfera para evitar uma catástrofe.

    • A empresa italiana de energia Eni diz que usará combustíveis fósseis para gerar 90% de sua energia até 2050. Para compensar essas emissões, precisará de todo o potencial das florestas da Itália para absorver o carbono. São 8 milhões de hectares para sustentar a afirmação de emissão líquida zero da Eni.

    • As metas de emissão líquida zero de apenas quatro das grandes companhias de petróleo e gás (Shell, BP, Total e Eni) poderiam demandar uma área duas vezes maior do que o Reino Unido.

    • O plano de emissão “líquida zero” da maior empresa de alimentos do mundo, a Nestlé, poderia exigir 4,4 milhões de hectares de terra por ano para compensações.

Essas são apenas três das muitas promessas de emissão líquida zero por parte das empresas que causarão danos indescritíveis a povos e territórios no Sul global. A realidade é que a demanda das empresas por “soluções baseadas na natureza” abrangerá os espaços de vida de Povos Indígenas, camponeses e comunidades que dependem da floresta em grande escala.

Para evitar o caos climático e a perda de biodiversidade em níveis catastróficos, a destruição das reservas subterrâneas de carbono fóssil deve ser interrompida e as comunidades de linha de frente devem ser apoiadas e protegidas. As “soluções baseadas na natureza” devem ser paradas onde estão. Elas são distrações perigosas em relação ao fim da queima de combustíveis fósseis e resultarão em imensas apropriações de terras destinadas a expropriar povos indígenas e comunidades rurais no Sul global.
Não ao perigoso engano das “soluções baseadas na natureza”!

Citações:

Tom BK Goldtooth, Indigenous Environmental Network: “As soluções baseadas na natureza são perigosas para os povos indígenas”. “Sob o guarda-chuva da emissão líquida zero, as grandes empresas privadas, a ONU e os governos estão usando essa ideia para pressionar por mais compensações em terra para um sistema global de precificação do carbono. Por trás das “soluções baseadas na natureza” estão as gigantes do agronegócio, do petróleo e da indústria farmacêutica. Estamos vendo uma enorme pressão por políticas que afirmam falsamente salvar a Mãe Terra – o planeta. A realidade será mais apropriação de terras e territórios dos Povos Indígenas.”

Silvia Ribeiro, Diretora para a América Latina do grupo ETC: “O termo guarda-chuva das Soluções Baseadas na Natureza está funcionando efetivamente para fazer uma lavagem verde e aumentar as oportunidades de geração de lucro. Sendo assim, o número de “compromissos com as SBN” por empresas explodiu. Mas simplesmente não existe natureza suficiente para isso, de forma que as empresas também estão pressionando por meios tecnológicos para “melhorar” a natureza, como projetos de bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS) e outras tecnologias de geoengenharia.”

Shalmali Guttal, Focus on the Global South: As “soluções baseadas na natureza” só são soluções para as grandes empresas, que buscam constantemente outras formas de obter lucros, independentemente de seus impactos sobre as pessoas e o planeta. Essas “soluções” são enganos perigosos, que levarão à expropriação de populações rurais em grande escala e aumentarão os conflitos por terras e territórios entre comunidades rurais e governos. A “emissão líquida zero” é um cálculo empresarial cínico para produzir dados falsos e enganar o mundo, alegando que as operações destrutivas dessas empresas podem ser compensadas de alguma forma. Temos que unir forças em todo o mundo para desmantelar o poder das grandes corporações e interromper suas tentativas permanentes de extrair valor da natureza e das pessoas.”

Kirtana Chandrasekaran, Friends of the Earth International: “Nas importantes reuniões da Convenção sobre Diversidade Biológica esta semana, as “soluções baseadas na natureza” estão sendo apresentadas como necessárias para a biodiversidade, mas, na verdade, tudo o que as SBN fazem é usar a natureza para compensar as crescentes emissões de carbono, à custa dos direitos de Povos Indígenas e Comunidades Locais, os verdadeiros guardiões da biodiversidade. A comercialização da biodiversidade e a compensação não são a resposta para as crises climáticas ou de biodiversidade. Grandes corporações e governos devem cortar a emissão de carbono na fonte, em vez de usar as SBN para fazer lavagem verde.”

Henk Hobbelink, GRAIN: “Se deixarmos que as grandes empresas de petróleo, do agronegócio e outras corporações gigantes compensem suas emissões com o que chamam de “soluções baseadas na natureza”, permitiremos que elas não apenas continuem poluindo a atmosfera, mas também gerem uma nova e gigantesca apropriação de terras agrícolas à custa dos pequenos agricultores e da produção global de alimentos. Precisamos promover a soberania alimentar, que é a melhor maneira de manter os agricultores em suas terras enquanto se combate a crise climática”.

Soumya Dutta, India Climate Justice / South Asian People's Action on Climate Crisis / Friends of the Earth India: “Projetos agrícolas de sequestro de carbono do solo, como o projeto controlado “Boomitra”, na Índia, são falsas soluções para a crise das mudanças climáticas, pois permitem que grandes empresas e países poluentes continuem com emissões elevadas em troca de dinheiro do mercado de carbono. Além disso, entregam dados de milhões de pequenos agricultores a grandes corporações, através de sua microvigilância, abrindo espaço para um maior controle desses agricultores pelo agronegócio. Isso terá graves consequências negativas para a soberania alimentar."

Jutta Kill, Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM): “A expressão “soluções baseadas na natureza” soa bem, mas é enganosa. Elas são um reposicionamento de marca ampliado do REDD. Há 15 anos, o REDD vem desviando a atenção do fim do desmatamento em grande escala e dando cobertura para que as empresas de combustíveis fósseis continuem destruindo os depósitos subterrâneos de carbono. As “soluções baseadas na natureza” resultarão nos mesmos conflitos e apropriação de terras que o REDD causou nos últimos 15 anos e incentivarão o colapso climático e o desmatamento, em vez de desacelerá-los”.

Notas para editores:

1) Detalhes da entrevista coletiva. Para participar na entrevista coletiva, registre-se aqui:

Entrevista coletiva Ásia/Europa: 15 de março (terça-feira).16:00 Jacarta/Bangkok / 14:30 Delhi / 10:00 Barcelona/Berlim / 9:00 Reino Unido.
https://us06web.zoom.us/meeting/register/tZEqcuusqDgqHtxFstJmQqz52wbYe4PkyyBg

Entrevista coletiva Américas: 15 de março (terça-feira) 13:00 noon EST / 11:00 Cidade do México / 10:00 Pacífico / 14:00 Montevidéu.
https://us06web.zoom.us/meeting/register/tZcoce-qrzsiHt1GlSykyLKtc4Yc2Fvf7KOT


Para obter informações, antes de 14 de março, sobre os representantes que estarão presentes na entrevista coletiva de 15 de março, dirija-se aos contatos de imprensa mencionados abaixo.


2) A declaração completa está disponível em inglês, espanhol, francês, português e bahasa indonésio:

3) Compromisso de compensação da ENI 

4) Compromisso de compensação da Nestlé

5) Referência para Shell, BP, Eni, Total

6) Links para vídeo e fotos:

Vídeo: Comunidades no Gabão exigem suspensão do projeto Grande Mayumba

Fotos:


Contatos com a imprensa:

Para porta-vozes, contacte: Jutta Kill - jutta@wrm.org.uy