Carta aberta da Rede de Mulheres Latino-Americanas a governos e movimentos sociais

Por motivo do Dia Internacional da Mulher, a Rede Latino-americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Ambientais, formada por mulheres de Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Guatemala, Honduras, México, Salvador, Peru e Uruguai, que representam organizações, instituições, coletivos, grupos locais, mulheres do campo e da cidade, organizações ecologistas, de pesquisa, em alguns casos, mulheres profissionais ou com educação básica, publicou em sua página na internet (http://www.redlatinoamericanademulheres.org/) uma carta aberta (ver texto completo abaixo) dirigida aos governos e movimentos sociais da América Latina. Através dessa carta, a Rede busca dar a conhecer amplamente as situações resultantes da extração mineradora. Além disso, busca conseguir um grande número de adesões, e solicita a quem quiser aderir, que envie uma mensagem a <redlatinoamericanamujeres@gmail.com>

Texto completo da carta:

Neste dia tão especial para todas as mulheres do mundo, no qual se comemora a luta da mulher por seus direitos de participação igualitária na sociedade e por seu desenvolvimento íntegro como pessoa, queremos nos dirigir a vocês e os convidar a refletir sobre o que este dia significa para nós.

Somos mulheres latino-americanas que nos unimos para lutar em defesa do direito de nossas sociedades de viver com dignidade e justiça social, em um ambiente são e pacífico, e de nos opor aos megaprojetos de extração e saque de nossas riquezas naturais, principalmente os metais, por seus altos impactos negativos sobre a sociedade em general e especialmente sobre as mulheres. Quando as empresas mineradoras chegam a nossos povoados, sofremos a violação sistemática de nossos direitos, a natureza é contaminada e depredada, minguam os espaços de trabalho e de vida em família. A cotidianidade e a cordialidade das relações sociais e familiares se veem alteradas por problemas como o alcoolismo e a insegurança nas ruas. Aprofundam-se os problemas da violência contra as mulheres, como a psicológica, a física e a sexual, o tráfico de mulheres e a prostituição forçada, discriminação e exclusão social nos âmbitos de trabalho, políticos, sociais e econômicos, criminalização das líderes dos movimentos sociais de protesto, assim como o despojo de suas terras e o aumento dos problemas de saúde.

O estabelecimento de empresas mineradoras em nossos territórios significou o aumento do trabalho das mulheres, que se veem sozinhas para cuidar do lar, da terra, dos animais, inclusive trabalhando fora de casa para o sustento quando o homem vai à mina ou já não retorna.

Com a chegada das grandes empresas mineradoras e o aval que os governos lhes proporcionam através de leis que as beneficiam e sua política de repressão e criminalização social, algumas de nós conhecemos também a agressão, a prisão, a tortura e até a morte, como nossas companheiras Bety Cariño Trujillo, do México, e Dora Alicia Sorto, de El Salvador.

É por isso que, neste dia, fazemos um chamado aos governos e aos movimentos sociais para que reconheçam que a megamineração de metais na América Latina, além de gerar impactos sociais, culturais, econômicos e ambientais nocivos, tem efeitos perversos sobre as mulheres. Mais do que isso, empobreceu nossos povoados, nos privou de terra, água e alimentos sãos, fundamentais para nosso sustento e o das gerações futuras.

O modelo de desenvolvimento baseado na exploração e no saque ilimitado dos recursos da natureza para a acumulação do capital internacional – que enriquece a uns poucos e empobrece a maioria de nossos povos, fundamentalmente a nós, mulheres – implementado com persistência por parte dos governos latino-americanos, inclusive os chamados progressistas, é um desenvolvimento destrutivo e empobrecedor, que não queremos.

Exigimos

- que não se aprovem mais concessões de mineração em nossos territórios,
- que se suspendam as licenças ambientais dadas às empresas que não os respeitam,
- que não se elaborem mais leis especiais que favoreçam a atividade mineradora em detrimento de atividades tradicionais e mais sustentáveis, como a agricultura e a pecuária, das quais vive grande parte de nossos povos, seja como produtores camponeses e/ou consumidores dos alimentos produzidos nestas terras,
- que se investiguem e se atendam com políticas públicas os problemas ocasionados pelo impacto nocivo das atividades mineradoras em nossos países, em nossas comunidades e em nossas vidas.

Pelo direito das mulheres a ser ouvidas e a decidir sobre o desenvolvimento que queremos! Não à megamineração de metais em nossas terras!

Rede Latino-Americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Ambientais
Para aderir a esta carta, envie mensagem a <redlatinoamericanamulheres@gmail.com>