Brasil: 3° Marcha do Povo Indígena Ka’apor pelo Bem Conviver na Floresta por Autonomia, Autogoverno e Autodeterminação

Imagem
ka'por brasil

Nós construímos realidade e justiça comunitária.
N
ós somos protetores do território, da floresta.
Itahu Ka’apor, na 3° Marcha do Bem Conviver na Floresta.

 

Uma vez mais o povo Ka’apor através de sua organização ancestral TUXA TA PAME demonstrou sua força. Aconteceu nos dias 12, 13 e 14 de maio a 3° Marcha pelo Bem Conviver na Floresta, por Autonomia, Autogoverno e Autodeterminação, no território Alto Turiaçu, Amazônia Maranhense. Não é momento de festa, mas sim ocasião para denunciar as atrocidades que os povos originários, comunidades tradicionais quilombolas e camponeses sofrem pelas mãos do latifúndio, de madeireiros, da mineração, do garimpo, do especuladores de crédito de carbono e do setor mesquinho e asqueroso da sociedade mais conhecido como agrobusiness (agronegócio).

Em 2022 foi assassinado Sarapó Ka’apor marcando mais um ato do projeto de violência, injustiça e humilhação o qual estão submetidos os povos que defendem a floresta. Projeto este construído pela cobiça mineral e latifundiária que insiste em avançar sobre o território Alto Turiaçu, destruindo a floresta, envenenando rios, peixes e pessoas. O Estado brasileiro e governos do Pará e Maranhão, inclusive o governo federal, são peças ativas desse projeto de genocídio do povo Ka’apor.

Em solidariedade aos Tuxa Ta Pame, exigimos uma resposta da Polícia Federal ao assassinato de Sarapó, revelando seus mandantes que estão ativos e continuam perseguindo lideranças e apoiadores.

Nos últimos anos várias lideranças já foram alvo de atentados que resultaram em assassinato, com investigações comprometidas pelo enviesamento discriminatório da polícia civil e militar, da justiça branca antipovos originários e, sobretudo, pelas oligarquias políticas de parlamentares fascistas e do agronegócio que controlam a região no Pará e no Maranhão deslegitimando a autonomia dos Tuxa Ta Pame em realizar sua autodefesa pelo território.

Facilitam a exploração ilegal dos bens da floreta como faz a Agência Nacional de Mineração (ANM) quando libera títulos minerários dentro e, no entorno da TI Alto Turiaçu, com o conchavo do IBAMA  (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) apadrinhado pela elite do agrobusiness, pelo ostracismo efetuado pela FUNAI (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e Ministério dos Povos Indígenas aos povos que não concordam com sua política institucional de amansamento da rebeldia indígena frente ao apagamento de suas raízes e culturas via políticas colonialistas.

O povo Ka’apor, orientado por sua ancestralidade Tuxa Ta Pame, é constantemente perseguido por grupos políticos e econômicos locais e regionais que são favorecidos pelos grandes projetos de exploração mineral, garimpeiro, madeireiro, grilagem e, mais recentemente, por empresas de especulação da floresta no mercado de sequestro de Carbono. A crise climática é fruto do capitalismo e não será resolvida no mercado financeiro, mas sim, pela luta, união e autodeterminação dos povos da floreta. Empresas como a VALE (via estratégia de cooptação indígena e a sua Ambição Social mediante o seu Plano Básico Ambiental-PBA), a WordLife Works e Forest Trend só tem causado estrago e divisão entre o povo Ka’apor, assim como, aliciando lideranças de outros povos indígenas no Maranhão e no Pará abrindo portas para a financeirização dos territórios via bolsa floresta. Essas lideranças se tornam subalternas ao vicio do jogo mesquinho de poder e da dominação do andar de cima, contra a maioria da população de seus povos.

Como o Tuxa Ta Pame é o único grupo dentro do território que se opõe a essa nova forma de colonialismo empresarial-político-estatal sofre com a desigual correlação de forças onde até prefeitos do Partido Liberal (PL) Neonazista garantem advogados e todo tipo de assessoria político-jurídica- policial para realizar investidas contra todos aqueles e aquelas que dizem não a esse projeto de dominação dos povos da floresta. Temos que denunciar permanentemente!

Por isso os Ka’apor liderados pelos TUXA TA PAME não esperam a justiça do homem branco, constroem justiça com autodefesa para seu povo e território e, experiências de governança que demonstram ter clareza de seu projeto de vida. A luta dos Ka’apor contra a mineração em suas terras, contra a financeirização de suas florestas e biodiversidade, também deve ser a nossa luta. Pela vida dos parentes, gritamos Sarapó Vive!

Entidades que colaboram e apoiam o povo Ka’apor e a 3° Marcha pelo Bem Conviver na Floresta:

- Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP/UEPA)
- Asamblea de Articulación de Los Pueblos del Kollasuyu, Argentina
- Federação Anarquista Cabana (FACa)
- Mirasawa Murukutu Tupinambá Kuri’o Ytinga – Maery
- Red Descolonialidad y Autogobierno
- Sindipetro - Sindicato dos Petroleiros PA/AM/MA/AP
- Idade Mídia Comunicação para Cidadania
- Centro de Cultura Libertária da Amazônia (CCLA)
- Instituto Amazônia Solidária (IAMAS)
- Instituto Pororoca
- Sindicato dos Docentes da Universidade do Estado do Pará (SINDUEPA)
- Centro de Educação Neo Humanista de Ananda Amarga (CENHAMAR)
- Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)
- Aldeia Tupinambá Serra do Padeiro no território indígena Tupinambá de Olivença Cacique Babau Tupinambá - Seção Sindical do ANDES (Regional Nordeste 1 MA/PI/CE) (APRUMA-MA)
- Danilo de Assis Climaco professor de antropologia, Universidade de San Marcos, Peru
- Roberto Espinoza, Sociólogo, Peru
- Asamblea de Articulación de Los Pueblos del Kollasuyu, Argentina
- Associação Cultural Amazônia (ACAM)
- Conselho Warao Ojiduna
- Movimento Xingu Vivo Para Sempre
- Conselho Indigenista Missionário – Regional Maranhão
- Movimento Mundial Pelas Florestas Tropicais - WRM

Baixe a nota em pdf aqui.