Nos últimos anos, a ´energia´ está no centro dos principais debates que buscam soluções para o eminente colapso climático para o qual o mundo ruma. A ´transição energética´ e as ´energias limpas´, até as críticas estruturais que questionam ´para que´ e ´para quem´ se produz energia, são parte desse debate. Entretanto, é preciso dar um passo atrás e refletir sobre a própria ideia do que é ‘energia’. Esta edição do boletim do WRM pretende contribuir com essa reflexão.
Boletim 275 - Junho 2025
NOSSO PONTO DE VISTA
ENERGIA EM DEBATE
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24 Junho 2025A raiz da crise climática que vivemos não está na matriz energética, mas na própria lógica de ‘energia’. Embora hoje seja difícil imaginar, a ideia de energia nem sempre existiu. Ela foi criada com uma finalidade muito específica: acumular capital. Enquanto continuarmos a naturalizar a ‘energia’ como um recurso essencial para a vida humana, nunca enfrentaremos as verdadeiras causas do colapso climático que vivemos: um sistema social feito para concentrar riqueza.
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24 Junho 2025O que segue são conversas com pessoas de povos de diferentes continentes, mas que fizeram uma escolha comum: viver sem energia. No Arquipélago da Indonésia ou na Amazônia brasileira, essas pessoas mostram que a energia elétrica está longe de ser um recurso essencial para a vida humana. Pelo contrário, para elas, a ausência dela que é essencial.
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24 Junho 2025A soberania alimentar não pode ser alcançada sem conexão com a soberania energética. A nossa visão sobre energia valoriza os ritmos da natureza, a sabedoria dos mais velhos e restaura o equilíbrio entre os seres humanos e a Terra. Isso porque, nas cosmologias africanas tradicionais, a energia não era algo separada da vida. A era dos combustíveis fósseis rompeu esse equilíbrio, separando a energia da ética e a transformando em uma mercadoria que pode ser comprada e vendida.
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24 Junho 2025“As pessoas precisam pensar sobre o que realmente querem. Aqui, nós não dependemos de eletricidade nem de energia solar para a irrigação. Desde a época dos nossos ancestrais, contamos com a chuva e os rios, e é preciso restabelecer essa conexão”, explica Sunita Paharia, moradora das Colinas de Rajmahal. Nessa parte da Índia, comunidades com uma longa história de resistência à expropriação de territórios ancestrais estão reconstruindo sua autonomia e seu futuro.
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24 Junho 2025Nossa comunidade de Caisán, no Panamá, é a prova de que é possível enfrentar os impactos nocivos de um modelo excludente de desenvolvimento hidroenergético. Por meio da organização comunitária, interrompemos a construção de hidrelétricas promovida por um dos maiores projetos de desenvolvimento e integração da América Latina, o Plano Puebla Panamá. Hoje, avançamos na construção de um modelo energético justo e comunitário.
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24 Junho 2025No Boletim 274 do WRM, foi publicado um artigo sobre o trabalho da Fundação Earthworm, intitulado “ONGs a serviço da pilhagem de territórios: o caso da Fundação Earthworm”. Este artigo descreve como grandes empresas que geram conflitos em comunidades se beneficiam da cooperação com organizações como a Fundação Earthworm, enquanto permanecem a violência contra ativistas comunitários, a expropriação de terras e as agressões sexuais contra mulheres.
DOS ARQUIVOS DO BOLETIM DO WRM
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24 Junho 2025Como reconstruir os laços comunitários e a “energia-alegria” de comunidades cujos territórios foram destroçados por projetos predatórios? O texto a seguir apresenta uma proposta da Clínica Ambiental – um projeto que surgiu para tentar sanar comunidades camponesas e indígenas da fronteira entre o Equador e a Colômbia, cujos tecidos sociais foram destroçados, sobretudo por projetos de extração petroleira. A ‘Proposta Huipala’ sugere um percurso para que as comunidades avancem rumo a suas utopias e reencontrem a ‘energia-alegria’ de viver após experiências traumáticas de expropriação territorial e social. Aqui, a energia é pensada de forma bastante abrangente e diferente daquela às quais as sociedades capitalistas estão acostumadas.
RECOMENDADOS
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24 Junho 2025O relatório ‘Energy Alternatives: Surveying the Territory’, publicado pela The Corner House, traz dados e argumentos que colocam contra a parede a tese da ‘transição energética verde’. Além disso, oferece um extenso levantamento de experiências comunitárias que propõem alternativas energéticas baseadas em outra concepção de energia — diferente da capitalista. Acesse ao relatório completo aqui (disponível em inglês e espanhol).
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24 Junho 2025Esse artigo faz uma afiada crítica às políticas climáticas elaboradas em negociações internacionais, como as COPs, que beneficiam os interesses econômicos daqueles que aceleram a destruição do planeta. Em nome dessas políticas, ‘biopiratas do carbono’ têm ameaçado diferentes comunidades indígenas e seus territórios ao redor do mundo. “Diante desse panorama desanimador, nós, povos indígenas, não apenas resistimos, mas também temos propostas”, afirma o artigo. O que segue é o vívido relato da transição energética que o povo Huitoto decidiu fazer a partir de seus valores e conhecimento ancestrais. Vale a leitura.
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24 Junho 2025Empresas de energia lucram continuamente com atividades que alimentam e financiam o regime colonial de apartheid e genocídio de Israel contra o povo palestino. É isso que se destaca na recente publicação de uma coalizão global de dentro e fora da região.Com foco em duas corporações específicas – Eni e Dana Petroleum, que em outubro de 2023 receberam de Israel licenças de exploração de gás em águas palestinas – a publicação é útil para entender por que a energia é uma questão fundamental na luta pela libertação palestina. Além das empresas específicas, as campanhas de antinormalização exploradas na seção quatro são exemplos de iniciativas de movimentos palestinos, indígenas e anti-imperialistas que servem de inspiração para organizações na luta por justiça climática.
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23 Junho 2025A Conferência de Movimentos Florestais de Toda a Índia foi realizada em Nagpur, de 5 a 7 de abril de 2025. Reuniram-se mais de 400 representantes dos Adivasi (Povos Indígenas) e comunidades que vivem nas florestas, de 14 estados do país, para compartilhar experiências, desafios e estratégias. Com forte presença de mulheres, os participantes denunciaram as violações e ameaças sistêmicas que enfrentam, incluindo assédio, remoções forçadas para a criação de áreas protegidas, mercantilização das florestas e avanço de projetos extrativistas. A conferência foi concluída com a formação do Fórum de Movimentos Florestais de Toda a Índia, que visa, entre outras coisas, apoiar a crescente resistência contra projetos nocivos e construir governança comunitária sobre as florestas.