Comunidades camponesas e que dependem das florestas unidas em suas lutas

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Editorial 237
Laos Ph: Focus on the Global South/Anthony Gueguen

Em solidariedade ao Dia Internacional de Luta Camponesa. Um dia para recordar, intensificar a luta e se mobilizar coletivamente contra a perseguição e a violência que camponeses e camponesas sofrem diariamente, no mundo todo.

Em 17 de abril de 1996, 19 camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra foram assassinados no estado do Pará, no Brasil, em um protesto na luta pela terra. Como resultado disso, a Via Campesina – o maior movimento de camponeses do mundo – definiu essa data como o Dia Internacional de Luta Camponesa. Um dia para recordar, intensificar a luta e se mobilizar contra a perseguição e a violência que os camponeses sofrem diariamente, no mundo todo, como resultado das políticas neoliberais do sistema econômico dominante.

Nós, do WRM, nos unimos todos os anos ao chamado em solidariedade às lutas pela terra, pelos meios de vida e subsistência e pela autonomia dos povos.

Afinal, as lutas de camponesas e camponeses estão intimamente relacionadas às lutas das comunidades que dependem da floresta. Em muitos casos, as comunidades camponesas também dependem das florestas e as comunidades que dependem das florestas são, ao mesmo tempo, comunidades camponesas. Ao produzir alimentos, essas comunidades vivem, se reproduzem e mantêm sua cultura e sua soberania alimentar graças às suas terras, suas florestas e seus entornos.

No entanto, outro aspecto que as relaciona são as ameaças que elas enfrentam constantemente pelas políticas neoliberais que buscam concentrar a terra e as florestas para o benefício de uns poucos – sejam empresas transnacionais, agências governamentais, magnatas ou organizações de conservação ambiental, com os chamados projetos de carbono florestal (REDD+) ou de “compensação” em geral. A concentração de terras continua se expandindo, principalmente no Sul global e, com isso, há forte opressão, criminalização e violência.

Neste boletim, temos um artigo escrito pela Associação Nacional de Camponeses e Ribeirinhos de Camarões (Synaparcam, na sigla em francês) que explica como a empresa de plantações de palma de dendê (oil palm) Socapalm tenta estender uma certificação com o único objetivo de gerar mais benefícios econômicos. A Socapalm foi denunciada em várias ocasiões por seus impactos desastrosos para as florestas, o entorno e as comunidades locais. Outro artigo ressalta uma nova tendência e, ao mesmo tempo, uma estratégia de expansão das plantações de dendê: o lançamento de programas que dizem que melhorarão a produção de cultivos de alimentos. Para isso, uma delegação da maior confederação camponesa da República Democrática do Congo, a COPACO-PRP, e o WRM conheceram a experiência de famílias camponesas com o chamado programa PAPAKIN, na província de Kwilu, um lugar com uma história de expropriação, luta, desmatamento, apropriação de terras e resistência desde a época colonial.

Outro artigo evidencia uma tática que tem sido usada por empresas madeireiras e de plantações nas florestas da Bacia do Congo. As madeireiras mais proeminentes da República do Congo, da República Democrática do Congo e da República Centro-Africana têm conexões com os projetos de plantações que estão derrubando as florestas. Além disso, as empresas de plantações com problemas para financiar suas operações estão usando a extração de madeira como forma de ganhar dinheiro.

O caso da cidade de Três Lagoas, no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, demonstra a forte influência que as empresas de plantação de árvores e de celulose podem exercer sobre a população, com o objetivo principal de neutralizar sua resistência. Aproveitando-se da ausência do Estado, elas têm conseguido avançar sobre esses territórios com “projetos sociais” que tornam as famílias dependentes de sua presença. Por outro lado, um artigo vindo do Uruguai nos alerta sobre a ameaça latente da instalação da terceira megafábrica de celulose naquele país, desta vez, nas mãos da finlandesa UPM.

Do Acre, Brasil, a história de uma comunidade localizada dentro de um projeto de carbono florestal ou REDD+ de 40 mil hectares evidencia a difícil luta por acesso e posse da terra, tendo em vista, principalmente, que a comunidade de seringueiros que vive lá há gerações não possui os documentos legais necessários. O projeto, por sua vez, já vendeu muitos créditos de carbono e até agora só deu à comunidade um kit dental e uma consulta ao dentista.

Mas são as comunidades camponesas e dependentes da floresta que, enraizadas em suas terras, florestas e espaços de vida, vêm lutando para resistir à pressão por concentração de mais e mais terras para o acúmulo de benefícios econômicos. Suas lutas de resistência andam de mãos dadas com a defesa não apenas de suas terras e florestas, mas também de seus muitos outros modos de viver, conceber e se relacionar com o mundo. Essas outras formas concentram histórias e saberes cuja origem data de incontáveis ​​gerações.

Essa luta de resistência e defesa da vida fica evidente em um artigo deste boletim sobre o avanço nocivo da indústria agrícola e do megaturismo em Bali, Indonésia, onde organizações de base das comunidades, intimamente ligadas a visões de mundo que priorizam uma relação direta e sagrada com o entorno, conseguem evitar que as empresas tomem suas terras, florestas e fontes de água.

Boa leitura!