Peru: Mineradora Yanacocha dá marcha a ré diante da resistência popular

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Os departamentos dominados pela mineração têm os níveis de pobreza mais altos do país. É o caso de Cajamarca onde está localizada a Mineradora Yanacocha-- cujas ações estão divididas pela transnacional americana Newmont Mining Corporation (51,35%), o grupo peruano Benavides (43,65%) e a Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial (5%).

A empresa mineradora Yanacocha atua em Cajamarca desde 1993 e é a segunda maior mina de ouro do mundo. Paralelamente, Cajamarca contribui com cerca de 10% das exportações do país e é a segunda região e o quinto departamento mais pobre do país, com 77,4% da população vivendo na pobreza e 50,8% na extrema pobreza.

Em 2 de setembro de 2004, cerca de 3000 camponeses marcharam para o acampamento da empresa Yanacocha (vide Boletim nº86 do WRM) localizado no Cerro Quilish, exigindo que não fossem realizadas as novas atividades de exploração planejadas em Quilish, Yanacocha Sul e Bacia Porcón. Trata-se de uma área com um ecossistema muito frágil localizada em uma parte alta da bacia. Quilish está a apenas 8,5 km da planta de tratamento de água potável "El Milagro". De acordo com estudos e relatórios técnicos, a exploração e posterior explotação colocaria a água em grave risco de envenenamento, com a decorrente repercussão na saúde e na vida da população tanto urbana quanto rural, além de um crescente desabastecimento de água.

Os confrontos entre camponeses e policiais foram seguidos pelo ataque desde um helicóptero facilitado pelo Exército que lançou bombas lacrimogêneas contra os manifestantes a fim de dispersá-los. Em decorrência do confronto houve vários lesados, entre eles um ferido de bala e várias detenções inclusive de crianças e idosos.

Poucos dias depois, em uma marcha multitudinária realizada no dia 15 de setembro- dia de greve regional- a população de Cajamarca exclamava: "Escuta Yanacocha: Cajamarca deve ser respeitada", "Povo inteligente defende o meio ambiente", "A vida é um tesouro que vale mais que o ouro", "Queremos água limpa e sem poluição", "¡Se pode sim, se pode sim!"

A contundente protesta cívica da população de Cajamarca em favor de seu direito legítimo de consumir água limpa, livre de metais pesados deu certo. Depois de duas semanas de movilizações e protesta cívica, o Ministério de Energia e Minas anulou a autorização dada à mineradora Yanacocha no Cerro Quilish. E uma Mesa de Diálogo será instalada para discutir as alternativas concretas a problemas concretos ocasionados pela Mineradora Yanacocha. A sociedade civil apresentará suas sugestões ao Estado do Peru.

Ainda resta, daqui para frente, seguir informando e organizando. Mas o povo tem clareza e diz: "Quando as lagoas de cianeto se filtrarem por nossos rios, não seremos salvos nem pelo ouro nem pelo dinheiro. Acordem cajamarquinos!"

Artigo com base em informações obtidas de: “El retroceso de Yanacocha”, Iván Salas Rodríguez, enviado por SERVINDI, Nº 31, correio electrônico: servindi@amauta.rcp.net.pe; “ Cajamarca dignidad ”, Iván Salas Rodríguez , http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=ES&cod=13944 ; “Impacto de la minería en América Latina”, Mines and Communities, http://www.minesandcommunities.org/Action/press545.htm