Colômbia: U’was resistem explorações de petróleo

Imagem
WRM default image

Em 15 de dezembro de 2006, o governo colombiano divulgou sua decisão de reiniciar atividades de exploração petroleira nos Blocos Sirirí e Catleya, localizados nos departamentos de Arauca, Santander, Norte de Santander e Bocayá, no nordeste do país, que estão dentro do território dos U'wa.

Durante mais de uma década os U'wa têm dito ao mundo o que significa para eles, cultural e espiritualmente, o petróleo, e não têm deixado de denunciar as conseqüências que teria uma exploração petroleira para seu território e sua cultura e têm oferecido inclusive sua vida para defender-se do presumível desenvolvimento. Sua luta e sua convicção têm inspirado outros povos ao redor do mundo que têm percebido como a indústria petroleira, que apenas beneficia uns poucos, tem destruído suas vidas. Com o argumento do desenvolvimento e o progresso esses projetos querem impor-se a eles, mas trazem destruição.

Diferentes pesquisador@s e expert@s nos conflitos ambientais e sociais ocasionados pela indústria petroleira têm evidenciado os prejuízos que tem causado e causará a exploração petroleira às terras e vidas dos U'wa. Ferry Lynn Karl, professora da Universidade de Standford nos Estados Unidos, fez uma análise muito minuciosa dos impactos negativos do projeto Sirirí/Catleya para os ecossistemas e para a situação social e econômica dos indígenas, anunciando que também poderia gerar um estado de violência na região.

A decisão governamental significa um desconhecimento do direito dos U'wa a seus territórios ancestrais, que incluem o solo e o subsolo. A cédula real entregada pela Coroa à Nação Tuneba (U'wa) em 1802, ratificou e delimitou sua jurisdição nos atuais departamentos de Casanare, Arauca, Boyacá, Santander, Norte de Santander e em porção do território venezuelano. Por sua vez, esses direitos estão reafirmados pela Lei Colombiana 153 de 1887 e também pelo Artigo 332 da constituição de 1991. A decisão do Ministério do Interior de continuar com o projeto petroleiro Sirirí/Catleya viola também a Convenção 169 da OIT e as recomendações ajustadas em 1998 entre o Governo Nacional e o Povo U'wa.

No quadro do processo de "Consulta Prévia" iniciado pelo governo para a exploração e explotação petroleira no território U'wa, realizou-se uma consulta com a organização indígena de Arauca, Ascatidar, a que deu como resultado uma resposta negativa e ASOU'WA, a organização que reúne os indígenas U'wa de Santander, Norte de Santander e Boyacá, disse não à consulta prévia. Ainda assim, o governo informou que convocará as organizações para que se envolvam na realização do Plano de Manejo Ambiental.

Mais de 120 organizações colombianas e de diferentes partes do mundo, e aproximadamente 30 pessoas enviaram em 22/12/2006 uma carta ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, para exprimir sua surpresa e indignação pela decisão de realizar explorações petroleiras no território U'wa. Nela pedem que revise a decisão de autorizar a exploração sísmica no Território do Povo U'wa e arquive para sempre esse projeto.

Gubanu, um ancião, que também é um werjayu (sábio), percorreu descalço o distrito capital para iniciar uma nova etapa na diplomacia U'wa. Junto com Luis Tegria Sirakubo, presidente da Asociación de Autoridades Tradicionales y Cabildos U'wa, ASOU'WA, realizaram reuniões em Bogotá com representantes da União Européia, a embaixada da Venezuela e inumeráveis organizações sociais e não governamentais que apóiam a oposição desse povo à realização de atividades petroleiras em seu território. Gubanu cumpriu o objetivo que seu povo lhe tinha encomendado: ratificar a visão dos U'wa com relação ao assunto petroleiro, que foi recentemente expressada em 12 de outubro de 2006, quando disseram rotundamente não ao processo de consulta prévia proposto pelo governo colombiano.

Os representantes U'wa realizaram um encontro com a imprensa, onde exprimiram sua visão de que com a exploração petroleira não apenas tiram o sangue da mãe terra, mas fica em mal estado. "É por isso" disse o ancião, "que agora já não há tanta pesca como antes, faz mais calor e o ayú sagrado (folha de coca), com o que o werjayu faz seus trabalhos espirituais, se secou”.

Por todas essas razões e como afirmam as organizações que apóiam a luta dos U'wa: "O projeto petroleiro Sirirí/Catleya não deve continuar. Queremos dizer-lhe [Presidente Uribe] que os U'wa não estão sozinhos, que continuaremos acompanhando sua corajosa luta, que estaremos a seu lado até que o Governo colombiano e as empresas petroleiras Ecopetrol e Repsol YPF entendam que esse território é sagrado e que as culturas com princípios não têm preço”.

Artigo baseado em informação obtida de: Carta ao Presidente da República da Colômbia, Álvaro Uribe Vélez, Bogotá, 22 de dezembro de 2006, publicada pelo Boletim "Ambientalistas en Acción" #55, http://www.censat.org/Documentos/AmbientalistasAccion/Carta_presidente_uwas.pdf; “U’was Reactivan Diplomacia a Favor de Su Territorio”, Amazon Watch, http://www.amazonwatch.org/newsroom/view_news.php?id=1337