Artigos de boletim

O ano de 2003 começou com a tonelada do cobre a 1.800 dólares. Neste ano o começo foi perto de US$ 3.600, o dobro do valor de 12 meses antes. O déficit no abastecimento do metal chegou a mais de 500 mil toneladas. O cenário, inteiramente distinto do que prevaleceu nos últimos anos, não podia ser melhor para o início das operações na maior mina de cobre do Brasil em todos os tempos. Antes mesmo de ser oficialmente inaugurada, o que está previsto para o final deste mês, com a presença do presidente Lula, a mina do Sossego, em Canaã dos Carajás, no Pará, já está vendendo.
Parece que não existe trégua para o povo U’wa em sua longa resistência de defesa de seus direitos ancestrais à vida e a suas terras, e de rejeição aos projetos de exploração petroleira em seu território tradicional (vide boletins 10, 22, 29 e 38 do WRM). O Plano Colômbia, a Ecopetrol e suas empresas petroleiras associadas, o governo omisso, todos são ameaças para o território dos U’wa, que é por eles considerado como “o coração do mundo. Por ele correm as veias que alimentam o universo. Se for destruído, o mundo se dessangra”.
A integridade do Parque Nacional Yasuní (PNY), localizado no coração da Amazonia equatoriana, está em grave perigo em decorrência da iminente iniciação de atividades petroleiras pela empresa petroleira estatal do Brasil, a Petrobrás (Petrobrás Energía Ecuador).
Na cidade de Cajamarca, no norte do Peru, milhares de camponeses, estudantes e organizações sociais estão lutando contra os planos da empresa mineradora Yanacocha (cuja principal acionista é a empresa mineradora estadunidense Newmont, junto com a empresa peruana Buenaventura e a Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial) de realizar trabalhos de exploração no Cerro Quilish, cujos mananciais alimentam os rios Grande e Porcón.
Em Popondetta, Província Oro, Papua Nova Guiné, representantes de todas as comunidades proprietárias de terras de toda a província se encontraram em 12 de março de 2004 no primeiro Foro sobre Direitos à Terra e Manejo Comunitário dos Recursos Naturais de proprietários de terras de Oro. Comprometeram-se a garantir um manejo sustentável dos recursos e a proteger seus direitos como os legítimos proprietários desses recursos, declarando que:
Durante séculos, os povos das florestas e os que dependen delas puderam desenvolver atividades agrícolas e criar gado de forma compatível com a conservação do ecossistema das florestas. O que foi mais tarde descrito em termos pejorativos por especialistas ocidentais como agricultura “de derruba e queima” era de fato um sistema que tinha provado ter impactos menores e reversíveis sobre a floresta enquanto fornecia meios de vida às comunidades envolvidas. Um sistema que na fala de hoje poderia chamar-se “sustentável”.
As florestas tropicais têm sido habitadas, durante milhares de anos, por comunidades que fazendo uso delas conseguiram seu sustento de variadas formas, inclusive através da agricultura. Tratava-se de um tipo de produção agrícola que levava em consideração as interações das lavouras e que foi desenvolvida sem provocar a destruição da floresta. Pelo contrário, havia convivência. Foram promovidas áreas de concentração de diversidade de espécies adequadas para o consumo humano, dentro de um cenário diversificado, sem enfraquecer as bases biológicas da florestas.
Em 1944, a Fundação Rockefeller financiou a introdução de uma série de tecnologias na produção agrícola do México. A partir disso foi criado um modelo de produção agrícola denominado "Revolução Verde", que tem como categoria central o conceito de "variedades de alto rendimento", desenvolvidas no molde de monoculturas apoiadas por um pacote tecnológico que inclui a automatização, a rega, a fertilização química e o uso de venenos para o combate de pragas.
A partir do século 15 em diante, o progresso tecnológico permitiu à Europa tomar a dianteira na organização do mundo inteiro através da invasão do continente americano, a quase total aniquilação da população nativa e a aquisição do controle irrestrito do poder político e econômico.
A agricultura e a pecuária são causas diretas de desmatamento. No entanto, é necessário irmos fundo e vermos quais os fatores que as impulsam, quem são os beneficiados, como elas surgem. Poderia dizer-se que se trata de um processo de afunilamento. Na superfície está localizado o mais visível, a desaparição da floresta como conseqüência dessas atividades.
O desmatamento das florestas tropicais aconteceu a uma taxa de 10-16 milhões de hectares per ano durante as duas últimas décadas e não tem qualquer sinal de redução. 16% de toda a floresta amazônica já tem desaparecido e todo dia, outras 7.000 hectares de floresta se perdem –uma superfície de 10 quilômetros por 7 quilômetros. As causas são complexas e às vezes relacionadas entre si, mas entre elas está o papel da agricultura comercial em grande escala.
A percepção mundial a respeito dos manguezais está mudando para melhor. Em tempos passados, foram tachados de pântanos mal-cheirosos infetados de insetos, mas agora estão sendo chamados, mais adequadamente, de “raizes do mar”, “floresta tropical anfíbia”, ou “berçário litorâneo”. Esta nova atitude constitui um primeiro passo muito positivo para atingir a sua conservação, porque um ecossistema valorizado tem maiores chances de ser protegido que um ecossistema considerado um pântano imprestável.